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quarta-feira, 27 de abril de 2016

'Le Monde': historiador diz que saída de Dilma não resolverá crise brasileira


Laurent Vidal aponta a discriminação como um dos demônios do passado do país


Em uma publicação do jornal Le Monde desta terça-feira (26), o historiador Laurent Vidal analisa a atual crisebrasileira. O especialista relembra fatos do passado do país para explicar o contexto atual e afirma que a solução vai além da saída da presidente do poder.
Ao jornal francês, Laurent Vidal, que lecionana Universidade de La Rochelle, explica que a crise que o Brasil enfrenta desde a reeleição de Dilma Rousseff, em outubro de 2014, revela a sociedade brasileira de hoje, que longe de ser o “país do futuro”, está ligada ao presente e capturada por seus demônios do passado. Um dos primeiros demônios, segundo o professor, é a questão da discriminação, que vem sendo ressaltada desde a vitória de Dilma. Para ele, um dos estopins foi a mídia nacional, que logo após os resultados, divulgou mapas do Brasil onde era possível ver claramente uma divisão da nação: de um lado, na metade superior, os estados do norte e nordeste, pintados de vermelho, que teriam uma maioria de votos para a presidente e, do outro, pintados de azul, os estados que de onde viriam a maior parte dos votos do rival Aécio Neves. 
Historiador analisa crise brasileira de acordo com sua história, desde os tempos da corte portuguesa
Historiador analisa crise brasileira de acordo com sua história, desde os tempos da corte portuguesa
“Esse retorno dessas duas faces do Brasilesconde principalmente uma forma de desprezo social, que se instalou no coração dos brasileiros. O excluído hoje não é apenas aquele que sofre das carências materiais, mas também aquele que não é reconhecido como sujeito digno de se pronunciar sobre uma escolha política e social”, analisa o professor nas páginas do Le Monde.
Vidal também chama atenção para o fato de que “a luta contra a corrupção, reivindicada pelos adversários da presidente, é um elemento clássico da história do país”. Ele lembra que, em 1808, o primeiro jornal brasileiro já falava dos danos que ela provocava na corte portuguesa exilada no Brasil, conclui. 
“O impeachment não resolverá a crise profunda que atravessa o país, pois não é o futuro que divide os brasileiros, e sim o súbito ressurgimento de um passado doloroso. Enquanto esse passado não for exorcizado, vai ser difícil imaginar um projeto de futuro capaz de integrar a diversidade desse país e de restaurar a confiança e o respeito entre os brasileiros”, finaliza o historiador ao Le Monde.
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